Apresentação
Blogue No Entanto...
Galeria de Fotos
Galeria de Vídeos
José Carlos Bravo Nico
Opinião
Diário do Sul Acção Socialista revista alentejo Dianafm

Diário do Sul

voltar à página anterior

» Pela janela dentro…

Rota do Alentejo: desligue o ar condicionado, abra as janelas do seu carro e sinta, com todos os sentidos, o Alentejo.

Era mesmo uma hora da tarde quando sai de Nisa, há uma semana. O ar estava muito quente e nas ruas quase ninguém se atrevia a circular. Só numa ou noutra sombra se aguentava alguém para não perder nenhuma novidade da tarde.

Decidi, mesmo assim, empreender a viagem que me conduzia até Évora, pelo caminho mais longo mas, simultaneamente, mais bonito. Um caminho numa das mais rústicas paisagens alentejanas, num dos dias mais quentes do ano. Para que o cenário ficasse completo, o ar condicionado foi desligado e as janelas do carro completamente abertas. Mergulhámos, pois, na imensidão da fornalha alentejana, com todos os seus cheiros e todo o deslumbramento próprio de uma terra que quase arde debaixo do sol impiedoso.

Entre Nisa e o Crato viam-se, aqui e ali, pequenos ajuntamentos de animais, ovinos e bovinos, que se concentravam junto das poucas árvores existentes. Deitados, ruminando e olhando a estrada, ali estavam, calmamente, esperando que algum fresco viesse e os fizesse circular novamente pelo ondulado do campo amarelo do restolho.

À saída do Crato, mesmo junto a um enorme edifício abandonado, que hoje é uma autêntica maternidade de cegonhas, dois homens bebiam a água fresca que corria de uma pequena bica. Um, de origem africana, ria-se do companheiro, certamente de origem de leste, que tinha a pela vermelha do escaldão que estava a sentir.

Em Alter do Chão, aristocrática e fidalga, as senhoras passavam a hora da sesta sentadas na esplanada bebendo águas minerais, com gás, bem frescas.

Em Vale de Seda, no largo principal, três homens montavam o palco e vedavam o espaço que será, certamente, o local onde se realizará o baile das Festas do Verão e onde se beberão muitas minis que afogarão o calor que o pessoal das redondezas vão acumulando nestes dias e que lhes darão a coragem suficiente para alguns puxarem as raparigas para dançarem as séries de música do conjunto.

Na estrada, de vez em quando chegava-me o cheiro da ceifa dos cereais. Olhava e facilmente via as ceifeiras-debulhadoras a fazerem o seu trabalho, operadas por um homem com um boné, ao qual é acrescentado um lenço que lhe cobre o pescoço. O tractorista, sempre deitado debaixo do reboque, dormitava esperando a respectiva carrada.

Em Fronteira, finalmente o cheiro do fresco. No parque Ecológico da Ribeira Grande, um autêntico oásis de sombras, água e bom gosto. Que bonito recanto cá em baixo, onde os choupos conseguem inventar pequenas brisas, enquanto, lá em cima, o Observatório Astronómico espera que a noite tombe para olhar para as estrelas perdidas num oceano negro.

No meio de umas curvas antes de Sousel, algumas centenas de metros atrás de uma FAMEL, com motor Zundapp, com dois amigos, duas canas de pesca (uma em cada mão do pendura), um estojo, um balde de verdemãs e um saco de plástico com um achigã, com a medida…

Finalmente Sousel e Estremoz. Certamente que estariam mais de quarenta e tal graus ao sol e a transpiração era abundante. Mas tinha valido a pena: que campo extraordinário; que cheiros inconfundíveis; que imagens poderosas; que temperatura tão intensa; que Alentejo inesquecível!

Em certas estradas do Alentejo, devia haver umas placas a dizerem o seguinte: Rota do Alentejo: desligue o ar condicionado, abra as janelas do seu carro e sinta, com todos os sentidos, o Alentejo…

19/07/2008

Página Inicial Actividade Profissional Actividade Política Curriculum Vitae Contactos Actividade Cívica e Social